Minha Palestina

Álvaro Nascimento *

Na minha Palestina não há um só preso, sob risco de assim ficar por até 175 anos, por noticiar as maldades humanas
Na minha Palestina as mulheres são respeitadas e ai de quem ousar sequer levantar a voz para uma delas
A opção de cada um a respeito de como e a quem amar não só é respeitada na minha Palestina, mas valorizada como um tesouro da diversidade humana
Na minha Palestina o sistema de Justiça existe para promover Justiça
Na minha Palestina os mares, rios, lagos e lagoas são para deleite e banho de toda a gente. Nunca para receber esgotos
Na minha Palestina os povos originários são respeitados, celebrados e sua cultura preservada como uma riqueza sem preço
Na minha Palestina os idosos e idosas são protegidos e homenageados
Na minha Palestina as crianças e adolescentes são nosso maior tesouro
Na minha Palestina as florestas são para júbilo e regalo de toda gente
A renda produzida pelos habitantes da minha Palestina é distribuída de forma justa, seja pelos salários, seja pelos serviços públicos a que todos têm acesso
Na minha Palestina a renda de um não ultrapassa mais de cinco vezes a do outro
Na minha Palestina a terra devoluta vira bem social e é repassada adiante, para quem queira cuidá-la e cultivá-la
Só se admite tecnologia inclusiva na minha Palestina, que não desempregue e não sirva à promoção de desigualdade
Na minha Palestina nada justifica que um eleve seus lucros para centenas nada terem
O transporte de gente e de coisas é quase todo sobre trilhos na minha Palestina
Na minha Palestina todas as casas são dignas de se morar
A educação é libertadora e é a mesma para todas as crianças da minha Palestina
Na minha Palestina a saúde coletiva é prioridade e a individual assegurada a todos
A cultura do povo da minha Palestina é respeitada e valorizada. A que vem de fora, apreciada, sem que esta afogue aquela
Todo lixo da minha Palestina é reciclado e cada um aprende, desde criança, que há um planeta a se proteger
Na minha Palestina não há venda de armas. Do estilingue que mata passarinho a revólveres e metralhadoras, nada cujo objetivo seja a morte é permitido. E ninguém sente falta delas
Nos dicionários da minha Palestina os verbetes sobre fome, racismo, homofobia, misoginia, miséria, assassinato, desigualdade, corrupção, analfabetismo, fascismo, existem apenas para educar sobre o que não admitimos ter
Na minha Palestina cor da pele não significa nada além do que uma maior ou menor quantidade de melanina no organismo que cada um recebeu como herança ancestral
Não há arames farpados cercando terras e propriedades na minha Palestina. Cada um tem a terra que lhe cabe e dela usufrui sem nem pensar em ter mais, pois sabe que para isso acontecer alguém passará a não ter nenhuma
Na minha Palestina o doutor e a doutora dão bom dia, boa tarde, boa noite, sabe o nome e agradece à faxineira ou faxineiro que cuida de seu ambiente de trabalho
Na minha Palestina os carros param nas ruas e avenidas quando algum pedestre faz menção de atravessar, sem precisar que um sinal de trânsito lhe diga o que fazer
Na minha Palestina as redes sociais servem para uma maior conexão, marcação de encontros presenciais, troca de experiências, de receitas culinárias e de piadas engraçadas entre toda gente.
Jamais disseminam mentiras e ódio
Minha Palestina é uma linda e excitante utopia, que todo dia me faz sair da cama e caminhar entre os espinhos que todo dia me sangram.
* Jornalista, poeta muito de vez em quando e um inveterado sonhador

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